Os Filmes
Um filme de acção criado a partir de imagens de um instrumento a bordo do Observatório Solar Heliosférico da Agência Espacial Europeia da NASA, mostra-nos uma perspectiva impressionante do Sol e do seu lugar na Via Láctea.
Obtidas entre os dias 22 a 27 de Dezembro de 1996, esta série de imagens mostra a deslocação do Sol em frente das estrelas da constelação Sagitário, enquanto o vento solar constante sopra do Sol em todas as direcções. Subitamente, um cometa surge vindo do sul e desaparece atrás do Sol. Finalmente, sem relação com o acontecimento anterior, uma gigantesca nuvem de gás solar bem visível é emitida, representando uma grande ejecção de massa numa direcção oposta à Terra.
Estas imagens impressionantes procedem do coronógrafo de luz visível do SOHO, o LASCO, que tem a possibilidade de mascarar os raios intensos da superfície solar, para poder revelar o brilho muito mais fraco da atmosfera solar, ou coroa. Operando com a sua maior amplitude de campo, a sensitividade sem precedentes do LASCO permite-o ver o ténue gás ionizado até às bordas da figura, a 13 milhões de milhas da superfície do Sol. Muitas estrelas são mais brilhantes do que o gás, criando a cena de fundo.
Os resultados podem alterar a percepção humana do Sol do mesmo modo que as fotografias da missão lunar Apolo revelaram que a Terra é um planeta bonito mas isolado no espaço, de acordo com o director da equipa do LASCO, Dr. Guenter Brueckner do Laboratório de Pesquisa Naval, Washington, DC.
"Passei toda a minha vida examinando o Sol, mas este filme é especialmente emocionante", disse Brueckner. "Por um momento, esqueci-me dos anos de esforço que passaram na criação do LASCO e do SOHO, e deixei de lado os muitos pontos de importância científica das imagens. Fico feliz por me maravilhar perante uma nova impressão da nossa estrela atarefada que nos dá a vida, e que afecta o ambiente de muitas maneiras que só agora estamos a começar a entender."
Durante muitos séculos, até mesmo os astrólogos sabiam que o Sol estava em Sagitário em Dezembro e se deslocava até à constelação de Zodíaco seguinte, Capricórnio. Era apenas uma questão de cálculo, porque o próprio brilho do Sol impedia a vista directa do campo de estrelas. O filme SOHO-LASCO faz deste ponto elementar da astronomia, pela primeira vez, um assunto para observação directa.
"Este é um exemplo especialmente dramático dos dados que os cientistas estão agora a começar a juntar rotineiramente do SOHO," disse George Withbroe, director do programa científico da Ligação Sol-Terra na sede da NASA, Washington, DC. "Ajuda-nos a entender que o Sol é realmente uma estrela típica, apesar de certamente termos uma relação especial com ele."
No filme, o norte está no topo da cena, o que corresponde à orientação do Sol visto ao meio-dia no hemisfério norte da Terra. O movimento da SOHO em órbita à volta do Sol permanece a passo com o movimento da Terra. SOHO viaja para a direita (oeste) em relação às estrelas durante o período de observação. Como resultado, a posição do Sol parece estar deslocada para a esquerda (para leste) em frente das estrelas. Neste modo, a LASCO observa uma área do céu 32 vezes maior do que o Sol visível.
Durante as observações, SOHO está a olhar em direcção ao coração da Galáxia Via Láctea, que está na constelação de Sagitário. A Via Láctea, composta pela luz de biliões de estrelas distantes, forma um faixa luminosa inclinada para baixo e para a direita. Linhas escuras vistas na Via Láctea são aspectos familiares para os astrónomos. São criadas por nuvens de poeira no disco da galáxia que ocultam as estrelas mais distantes.
Um cometa condenado, anteriormente desconhecido, entra pela esquerda nesta cena de 22 de Dezembro. O seu caminho encurva-se em direcção ao Sol e em 23 de Dezembro desaparece atrás da máscara de ocultação do coronógrafo. Não reaparece no lado oposto do Sol. Tendo ou não a sua trajectória conduzido directamente para a superfície visível, o cometa deve-se ter evaporado na atmosfera do Sol. Era um de uma família de cometas conhecidos por "sungrazers" (roçam-o-Sol), que se acredita serem remanescentes de um grande cometa que se desfez talvez há 900 anos. Outros fragmentos foram responsáveis por aparições espectaculares de cometas em 1843, 1882 e 1965.
Denominado Cometa SOHO 6, é um dos sete cometas "sungrazers" já descobertos pelo LASCO. Análises destas órbitas de cometas, actualmente em curso, são um pré-requisito para a sua inclusão no registo oficial da descoberta de cometas. O LASCO também nos forneceu figuras únicas do Cometa Hyakutake que passou atrás do Sol no início de Maio de 1996.
Detritos provenientes das caudas de muito cometas formam um disco à volta do Sol, no plano elíptico em que os planetas orbitam. Esses detritos dispersam a luz do Sol e algumas vezes são visíveis no crepúsculo na Terra, conhecido por Luz Zodiacal. Nas imagens originais obtidas pela LASCO, a Luz Zodiacal é mais brilhante do que a coroa solar. O processamento das imagens eliminou este efeito de uma forma precisa, trazendo à vista o vento solar e a Via Láctea.
O aparecimento aleatório de luzes nas imagens é devido aos raios cósmicos que atingiram o detector. Os raios cósmicos são partículas energéticas vindas de estrelas da Via Láctea que explodiram, e as variações no vento solar influenciam a sua intensidade na vizinhança da SOHO e da Terra. Operando acima do campo magnético protector da Terra, que repele muitas partículas, SOHO está mais exposto aos raios cósmicos.
Na maior protuberância solar vista no filme de Dezembro, uma ejecção de massa causou a expulsão para o espaço de biliões de toneladas de gás no lado direito (oeste) do Sol. A origem deste acontecimento muito abaixo na atmosfera solar foi evidente numa bolha em expansão que se pode observar nas imagens processadas pelo sistema de imagens da SOHO no ultravioleta extremo.
Ejecções de massa da coroa são os furacões do tempo espacial. O SOHO está na posição ideal para nos informar e até mesmo antecipar as suas origens na atmosfera do Sol. Ainda que o Sol seja actualmente suposto muito calmo, sendo mínima a contagem das manchas solares, o LASCO observou tantas protuberâncias grandes e pequenas -- quase uma por dia -- que os cientistas têm que pensar novamente em como definir uma ejecção da massa da coroa. Imagens posteriores do LASCO, de 6 de Janeiro de 1997, revelaram uma grande ejecção de massa directamente na direcção da Terra.
O filme e as fotografias relacionadas com este assunto estão disponíveis na Internet na página do SOHO/LASCO do Laboratório de Pesquisa Naval (Naval Research Laboratory):
http://lasco-www.nrl.navy.mil/lasco.html
Numa missão de cooperação científica internacional entre a NASA e a Agência Espacial Europeia (European Space Agency - ESA), SOHO foi lançado em 2 de Dezembro de 1995. Está situado perto do ponto de Lagrange L-1, onde as forças gravitacionais da Terra e do Sol se equilibram, a cerca de 1,6 milhões de quilómetros (um milhão de milhas) da Terra em direcção ao Sol. Este ponto vantajoso permite aos astrónomos solares o uso dos 12 instrumentos científicos do SOHO para observar o Sol continuamente, sem que exista "noite". As áreas mais importantes de pesquisa incluem estudos do interior do Sol por meio de heliosismologia, a atmosfera solar em ultravioleta e luz visível, e vento solar e partículas energéticas.
SOHO e os seus instrumentos são operados do Centro de Voos Espaciais Goddard (Goddard Space Flight Center, Greenbelt, MD), para o Departamento de Ciência Espacial (Office of Space Science) da NASA, Washington, DC.
Douglas Isbell Headquarters, Washington, DC 14 de Fevereiro de 1997 (Phone: 202/358-1753) Public Affairs Office Naval Research Laboratory, Washington, DC (Phone: 202/767-2541) RELEASE: 97-28